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État de siège (Estado de Sítio) – 1972

Após o sucesso e Z, Costa-Gavras logo tornou-se no principal nome do cinema político. E fazer um filme de resistência na década de 1970 não era fácil: após ser expulso de seu país natal, a Grécia, o diretor fez uma parceria na França com o roteirista Franco Solinas (A Batalha de Argel) para denunciar a repressão que ocorria nas ditaduras do cone sul. Para tanto, ele teria que bater de frente com os interesses das principais produtoras francesas, que não queriam distribuir um filme que atacasse os Estados Unidos, com medo de represálias. O resultado deste projeto arriscado foi État de siège (Estado de Sítio, no Brasil), um dos longas mais impactantes de sua época.

Segundo Costa-Gavras, a ideia para o filme surgiu após acompanhar o caso de Daniel A. Mitrone nas páginas do Le Monde. “Dan” era oficial da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, e teve papel chave na disseminação da tortura durante o regime militar brasileiro, sendo um dos responsáveis pelo apoio estadunidense ao golpe que derrubou o Presidente João Goulart. Após oito anos trabalhando em parceria com a polícia e o exército brasileiro, Dan foi enviado ao Uruguai com o mesmo papel, buscando fortalecer a luta do governo contra os grupos de esquerda. Em 1970, ele foi capturado pelos Tupamaros e executado após o país não garantir a troca de prisioneiros. O que mais chamou a atenção de Gavras, no entanto, era o fato dos jornais não saberem de fato qual a posição que o agente capturado ocupava no país. Nas páginas do Le Monde, cada dia Dan ocupava um cargo, desde policial até diplomata. Algo estava errado.

Junto com Solinas, o diretor buscou informações que ajudassem a dar um bom panorama geral do Uruguai. No filme, Dan é interpretado por Yves Montand, e o personagem chama-se Philip Michael Santore – seguindo o padrão de Gavras no começo de sua carreira, que era de não usar nomes reais para evitar problemas judiciais. O interrogatório feito pelo grupo de esquerda (que também sequestram o cônsul brasileiro em Montevidéu) e a caçada do governo, que revista casa por casa atrás de pistas que levem ao paradeiro do americano é apresentada de forma dura, numa espécie de drama onde não existem vencedores. Obviamente Gavras apresenta uma visão positiva dos Tupamaros, adotando o discurso da luta pela liberdade e pelo fim da opressão do governo, que criava Esquadrões da Morte para assassinar seus adversários políticos.

O filme apresenta diálogos inesquecíveis, especialmente para quem busca um retrato dos regimes do cone sul. A fotografia joga tons escuros que ditam a falta de perspectiva do diretor para o Uruguai, que se confirmaria com o rápido golpe que suspendeu a constituição e deu poderes para o Exército perseguir os Tupamaros em nome do Estado. Estado de Sítio foi filmado no Chile com o apoio do governo Allende, e teve seu lançamento banido em vários países da América Latina – e no próprio Chile, tão logo Pinochet assumiu o poder. Nos Estados Unidos, o lançamento nos cinemas foi limitado, e o filme conseguiu altos índices de audiência na estreia na televisão. Um verdadeiro clássico.

NOTA: 8/10

IMDb

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