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The Hateful Eight (Os Oito Odiados) – 2015

A cena inicial de The Hateful Eight (Os Oito Odiados, no Brasil) é épica. A lenta passagem de uma carruagem e a passagem dos créditos lembra clássicos western da década de 1960, como Bonanza. A diferença, neste caso, é que árido deserto típico do velho oeste dá lugar a uma fotografia branca da neve, acompanhada de um tema de abertura impecável, graças ao maestro Ennio Morricone. Este é um dos poucos pontos relevantes que merecem destaque. Tarantino, obviamente, tem um cuidado ímpar para a elaboração e contextualização de seus personagens. Mas em um longa de aproximadamente três horas enclausurado em uma pequena cabana durante a maior parte de seu tempo, existe uma clara sensação de que Tarantino visa tornar este filme em algo maior do que ele é, vide toda propaganda em torno do retorno do Ultra Panavision 70mm (que é fantástico e relevante, por sinal), e de sua notória promoção pessoal – afinal, quem coloca nos créditos que está fazendo ‘seu oitavo filme’? Um tanto quanto pretensioso.

Após o caso do vazamento do roteiro e as idas e vindas, os irmãos Weinstein bancaram a produção após Tarantino mudar elementos chaves da história. A Guerra Civil americana acabou, mas as diferenças ideológicas tomam conta da pequena taberna da Minnie. O caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) e sua prisioneira, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), partem para Red Rock, onde o homem busca os dez mil dólares oferecidos pela cabeça da criminosa. Durante o percurso, a carruagem é interrompida por outro caçador de recompensas, Major Warren (Samuel L. Jackson), veterano que lutou com a União e que carrega corpos para entregar na mesma cidade. Warren tem uma notória fama, já que ele carrega consigo uma carta escrita por Abraham Lincoln. Ainda no caminho para fugir da nevasca, Chris Mannix (Walton Goggins) também busca carona.Ele diz ser o novo xerife de Red Rock, mas suas atitudes suspeitas e seu passado sujo levantam suspeitas.

Ao chegar na taberna, Minnie, estranhamente, não aparece. Quem recebe a carruagem com os três homens é o mexicano Bob (Demian Bechir), que diz que sua chefe saiu para um outro compromisso. O inglês Oswaldo Mobray (Tim Roth) e o silencoso Joe Gage (Michael Madsen) também esperam a nevasca passar junto do veterano confederado Sandy Smithers (Bruce Dern). Dentre disputas políticas e conversas paralelas, descobrimos o real objetivo de cada um dos homens, em um conto recheado de intrigas e traições. O filme também conta com a presença de Channing Tatum, decisivo para o fechamento da história.

Se os diálogos e a apresentação de cada personagem ocupam a primeira hora e meia de longa, a partir da metade final, The Hateful Eight deixa do lado toda a trama de mistério para investir na violência e no sangue tradicional de seu diretor. É interessante observar como Tarantino apela para surpresas (seja com um soco inesperado ou com um tiro sem que o espectador tenha tempo de refletir). O humor negro está de volta com tudo, o que deve deixar os fãs de Tarantino satisfeitos. No entanto, composições batidas de roteiro usadas em Pulp Fiction e Django Unchained (poderia citar o uso da palavra nigga como um bom exemplo) mostram que houve uma clara tentativa de fixar bases sólidas de uma identidade não apenas visual (banhos de sangue), mas sonora, escrita.

É notório que Morricone não fez a composição inteira da trilha sonora – e o uso de músicas extremamente anacrônicas causam profundo estranhamento. A produção técnica aproveita-se do uso dos 70mm para captar tomadas que focam diretamente nos personagens, sabendo que a fotografia estaria limitada por conta do espaço interno. A atuação de Samuel L. Jackson é de alto nível, definitivamente um complemento perfeito para o durão Russell. Por mais que tenha simpatia pelo personagem de Tim Roth, ele entra em um padrão recente dos últimos filmes do diretor (o boa pinta com domínio da retórica, ultimamente interpretado por  Christoph Waltz).

The Hateful Eight é uma das grandes decepções do ano. Não poderia ser diferente, após toda promoção em torno do filme. Definitivamente, um dos piores da filmografia de seu diretor.

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NOTA: 6/10

IMDb