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Ich seh, Ich seh (Boa noite, mamãe) – 2015

Crítica e teoria

Michael Haneke ensinou que não é necessário abusar de gritos e efeitos especiais para criar tensão em seu público. Um filme de terror não precisa necessariamente envolver aparições de fantasmas para deixar o espectador de olhos abertos no cinema, pulsando a cada ato. Caché é uma prova disso. Um dos melhores longa metragens deste ano vem da Áustria e segue a escola deste lendário diretor. Severin Fiala e Veronika Franz (sobrinha e esposa de Ulrich Seidl, respectivamente) criaram um roteiro que enigmático, que, para ser compreendido em sua totalidade, certamente necessita de atenção total ao longo dos 99 minutos de rodagem, algo que não é nem um pouco incômodo, já que cada cena representa um desafio a ser concluído.

Filmado no glorioso 35mm, os irmãos Elias (Elias Schwarz) e Lukas (Lukas Schwarz) são inseparáveis. Quando eles observam sua mãe (Susanne Wuest) voltar para casa, uma sensação de estranheza toma conta dos garotos: ela não parece ser quem ela é. Com o rosto todo enfaixado por conta de uma cirurgia, aos poucos os dois suspeitam que a mulher que está dando ordens a eles não é a sua mãe, mas outra pessoa. É este o mistério que é a chave do filme. Para entender cada pedaço do longa, é fundamental observar detalhes que estão presentes desde a primeira cena. Ou seja, assistir mais de uma vez esta produção é quase que uma obrigação para responder a todas as perguntas que ficam em aberto uma vez que rolam os créditos.

A espetacular fotografia assinada por Martin Gschlacht capta com perfeição as aventuras dos meninos seja em um lago azul, em um lindo campo verde, na floresta coberta pela névoa ou trancados dentro de um quarto. É no isolamento que a paisagem ganha destaque, e a escolha do cenário de uma casa de campo não poderia ser melhor. Os três personagens que tomam conta da tela abusam de seus momentos de reflexão. É no olhar vago da mãe ou no sorriso dos irmãos que tudo toma forma – o que, em determinado momento, confunde ainda mais o público. Será que é tudo realidade?

Conversando com meus colegas da equipe do IMDb, observei um certo estranhamento a esta história: uma porção de pessoas pensa que o final é aberto por conta da história contada, o que discordo completamente. Desde Mulholland Dr, todo ano aparece filme deste tipo para concentrar as atenções de um público sedento por este tipo de desafio. Ano passado, Enemy foi uma de minhas críticas mais acessadas – justamente por conta disso. Em determinado momento, milhares de pessoas acessaram minhas explicações por dia para tentar desvendar o mistério de Denis Villeneuve (ou para pelo menos formar uma opinião própria). Abaixo, explico os ‘segredos’ do filme, se me permitem esta expressão. Se você entrou aqui na dúvida, saiba que recomendo fortemente assistir o longa antes, já que o que escrevo a seguir estraga uma porção de surpresas.

Após este aviso de spoilers, vamos ao que interessa:

Alguns pontos são básicos para compreender Ich seh, Ich seh em sua totalidade:

  1. Apesar do filme colocar em dúvida, a mãe dos garotos não é uma impostora, ela é realmente a mãe deles!
    1. a) Outra questão chave: por qual motivo a mulher está com o rosto cheio de cicatrizes? Ora, ela é uma apresentadora de televisão, famosa. Ela fez o procedimento devido a necessidade de estar cada vez mais jovem.
  2. Muita atenção na cena inicial do filme! Lukas morre afogado, aqui está a resolução de boa parte do mistério. A partir disso, Elias passa a se sentir culpado (é por isso que em determinado momento a mãe dele avisa que tudo foi um acidente), e cria uma personalidade secundária a partir da lembrança de seu irmão. A cena do gato afogado é simbólica.

Entender isso ajuda muito a resolver qualquer outra questão secundária. E elas são várias. Na verdade, toda cena pode ser questionada, mas uma vez que você aceita que os dois itens mencionados acima são verdadeiros, tudo se torna mais fácil. Na cena em que Elias chama pelo irmão, na verdade sua personalidade está se dando conta de que ele passou dos limites. É quando ele tenta absorver o irmão que tudo se complica.

Atenção especial para a cena final! Após o incêndio, que mata Elias e a mãe, é possível ver a alma da mulher vagando lentamente por trás do caminhão do corpo de bombeiros. O último ato – a reunião dos três, é um fechamento perfeito, intocável.

Candidato da Áustria a uma nomeação ao Oscar 2016, Ich seh, Ich seh renova seu gênero e deixa os olhos voltados para a Academia. Fica a pergunta: será que um filme deste tipo tem alguma chance de nomeação? Dado o histórico recente, não. Mas a novidade é tanta que pelo menos na pré-lista este filme merece destaque.

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NOTA: 9/10

IMDb

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