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The Unbearable Lightness of Being (A Insustentável Leveza do Ser) – 1988

Neste mês que dedicamos nossa análise à New Wave tcheca, não poderia deixar de tratar sobre o filme The Unbearable Lightness of Being (A Insustentável Leveza do Ser, no Brasil). Apesar da produção ser americana, a obra baseada no livro homônimo de Milan Kundera torna-se relevante por abordar um contexto político e social que nos ajuda a entender as várias faces da Primavera de Praga e a subsequente invasão soviética.

Tomas (Daniel Day-Lewis) não tem problemas para se relacionar com as mulheres. Reconhecido internacionalmente, logo na primeira cena o cirurgião pede para uma enfermeira tirar a roupa, o que dá uma boa prévia do que está por vir. Intelectual e com uma ótima aparência, seu poder de sedução conquista Tereza (Juliette Binoche), jovem de uma pequena comunidade que se apaixona loucamente pelo rapaz. Os dois são opostos perfeitos, uma vez que Tereza crê no amor puro e perfeito – enquanto Tomas vê no sexo uma atividade para suprir suas necessidades. Os dois se casam, mas Tomas não consegue cortas laços com Sabina (Lena Olin), artista de personalidade independente que mantém um caso de longa data com o homem. Enquanto a invasão soviética muda completamente o rumo de vida dos três, o professor Franz (Derek de Lint) acaba se apaixonando por Sabina – e deixa para trás sua esposa no intuito de viver com ela, o que acaba se mostrando uma opção errada.

Assisti a este filme horas depois de completar a magnum opos de Kundera. Como não poderia deixar de ser diferente, discordo de várias opções adotadas na adaptação comandada pelo lendário Jean-Claude Carrière (que também incomodaram o autor, que atuou como consultor informal). Minha principal crítica está na falta de profundidade do conceito chave da obra do tcheco, que é a leveza. No livro ela é transmitida através da separação de amor e sexo, onde temos quatro casos diferentes para análise. No filme, infelizmente não existiu a mínima pretensão de construir aos poucos os personagens. Ao contrário, desde o primeiro minuto sabemos que Tomas é um galanteador (assim como Sabina, sua versão feminina) e Tereza é a tradicional mulher que busca um relacionamento sério com um homem para durar por toda sua vida, muito devido a dura forma com que ela foi criada. Com isso, existe um esquema pré-determinado para levar ao espectador valores fixos que acompanham cada um destes por toda a exibição. Se por um lado tal opção tem seu mérito, considerando que o filme torna-se acessível, considero que foge completamente da proposta de Kundera. O principal desvio da obra pode ser encontrado na forma com que Franz é apresentado, uma vez que todo seu passado político citado no livro é escanteado para mostrar breves tomadas de sua relação com Sabina.

O fato mais interessante da obra de Kundera é que podemos analisar seu texto por camadas: dentre o político, o social e o privado, temos uma série de problemas enrustidos em questões morais e filosóficas sobre a natureza do homem. O filme trata com muita propriedade dos eventos de 1968 na República Tcheca (inclusive utilizando imagens reais para mostrar o drama da ocupação soviética), mas existe uma clara separação de cada uma destas categorias, com tomadas individuais e direcionadas para um determinado objetivo. A fotografia foi comandada pelo lendário Sven Nykvist, a quem considero o maior diretor de sua área na história do cinema europeu. Ele é responsável pelas tomadas quentes que esbanjam sensualidade através de pequenos objetos, como um chapéu ou um espelho.

Kundera – que fez vários elogios ao diretor durante as filmagens – não gostou do resultado final, e jamais permitiu qualquer outra adaptação cinematográfica de seus trabalhos. Com um clássico denso e complexo, pode-se dizer que Philip Kaufman inspirou-se na obra, mas jamais teve a pretensão de fazer uma adaptação fiel para a grande tela.

NOTA: 7/10

IMDb

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